terça-feira, 20 de outubro de 2009

Censura... Divina?


Recentemente recebi um e-mail.

Segundo aqueles que me repassaram, a mensagem vinha do “divino”, um pedido de ajuda. O conteúdo era simples: crucificar um suposto filme – dito “Corpus Christi” – que estrela Jesus Cristo tendo relações homossexuais com seus fiéis. A idéia do e-mail era aderir assinaturas para que tal produção não fosse exibida no Brasil. Minha dúvida foi simples e direta: por que raios isso veio parar nas minhas mãos?

Não me contive e respondi. Não por picuinha, por obrigação. Era como um chamado dos céus para que eu criticasse. É claro que, agora, minha caixa de entrada no hotmail está cheia de mensagens dizendo que vou queimar no inferno. Então, melhor me justificar antes de fazer tal viagem.

Não tenho conhecimento pleno sobre todas as idéias que Jesus pregava. Mas o que me parece absurdo é o suposto filho de Deus pregar a censura. Este é o caso aqui: falamos em nada menos que roubar o direito de expressão de uma pessoa. Até onde remete meu conhecimento, aquele que morreu há 2009 anos utilizava das palavras para convencer os demais – e não as calava para tanto.

Vamos lá: desde 1.988 D.C o Brasil tem na constituição algumas Clausulas Pétreas. Este nome atípico define que termos específicos não podem ser revogados a menos que a constituição inteirinha vá para o espaço. Dentre elas, encontramos duas muito bacanas: “Todo ser humano tem direito a vida” e “Todo ser humano possui livre direito a expressão de pensamento”. Tudo bem, camaradas, concordo que a vida de Jesus foi tirada injustamente, mas lembremos que isto aconteceu fora das terras tupiniquins e, de lá para cá, contamos mais de dois mil anos de evolução. O que não podem é, hoje, tirar nosso direito de divulgar nossas idéias.

Um filme é uma manifestação artística. É uma história contada pela ótica de um diretor, e que não é necessariamente melhor ou pior que a sua ou a minha; da mesma forma, também não é mais ou menos verdadeira. Estas expressões de idéias são geralmente fictícias, narram uma história e, em casos de bons filmes, trazem alguma mensagem e nos ensinam algo. Exigir que um filme não seja exibido no Brasil é clamar pela censura. O triste é observar que há os que pregam está prática e, por vezes, nem percebem isso.

Para fechar, não venham me dizer que não existe censura ou que este não é o caso. Quero assistir o filme onde a Xuxa tem relações com uma criança – alguém pode me indicar onde comprar? Também quero ler a biografia não autorizada do Roberto Carlos, aquela cujas edições foram queimadas. Agora, diabos, quero assistir Jesus Cristo tendo relações sexuais com um de seus fiéis. E absolutamente isso não me faz mais ou menos humano. Apenas representa o meu direito de fazê-lo e, respectivamente, do diretor em se expressar.

Da ditadura, amigos, fico com o “Milagre Brasileiro” e o avanço da economia. O restante, prefiro que sejam lembranças. E nada mais.